A Coluna Semanal de hoje já está no ar com Dra. Caroline Teles, médica pediatra, formada pela Universidade de Pernambuco, especialista em vacinação e sono infantil.
A EVOLUÇÃO DA PANDEMIA DE COVID-19 NA FAIXA ETÁRIA PEDIÁTRICA
Prestes a celebrar o réveillon de 2020, a China notificava o primeiro caso de Covid-19, na província de Wuhan.
Lembro como hoje, o quão se mostrava distante de nós e sem muita importância, aqueles casos iniciais que surgiram como uma epidemia que parecia se restringir a região asiática.
Entretanto, com o decorrer dos meses, o número de casos e de óbitos começaram a aumentar em outros continentes, chegando a ser registrado no Brasil, em 26 de fevereiro, o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus.
Era carnaval, não estávamos muito preocupados com o cenário mundial, mas em 12 de março, com a confirmação da primeira morte aqui no nosso país, começamos a enxergar este vírus de outra maneira.
A olhos vistos, acontecia o descontrole da transmissão em todos os continentes culminando com medidas de mitigação como isolamento social, higiene frequente das mãos, uso de máscaras e fechamento das escolas.
O fechamento das escolas aconteceu em todo o mundo, pois acreditava-se que, assim como nas outras viroses (incluindo a gripe), as crianças pertenciam ao grupo de risco e eram potenciais transmissoras e disseminadoras do vírus da pandemia.
Os pais se apavoraram, com toda razão, e o resultado foi que até os dias de hoje, 80% das escolas do mundo permanecem sem funcionar.
Mas o que sabemos até a presente data sobre a Covid-19 em crianças?
Até o momento já temos uma quantidade de trabalhos científicos bastante razoável para afirmar com segurança que as crianças são menos suscetíveis a adquirir e transmitir o coronavírus, assim como, quando contraem o vírus, apresentam quadros que variam de assintomáticos a leves em 90% dos casos.
Necessitam de menos internamento (não passam de 2-4% do total de internações) e apresentando menor índice de óbitos (em torno de 0,3% do total de óbitos) comparado aos grupos etários de adultos e idosos.
A pequena quantidade de crianças que necessita de internação por agravamento do quadro (inclusive em UTI), são as que apresentam comorbidades. Dentre essas, as mais importantes no público infantil são: doenças pulmonares, obesidade, doenças neurológicas e cardiopatias.
Vale salientar que a temida Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica Pós-Covid (processo inflamatório exacerbado na criança que teve covid-19 há 3-4 semanas, onde a criança evolui gravemente e precisa de UTI), é propagada de forma terrorista pela mídia e se apresenta como quadro bastante raro (2 para cada 100.000).
Diante desse contexto, entendemos que a criança não é pertencente ao grupo de risco para Covid-19 (salvo pacientes com comorbidades) e não são propagadores da doença. Cerca de 92% delas se contaminam no ambiente familiar pelos adultos de sua convivência domésticas e apresentam – quando contaminados – uma menor carga viral, contribuindo para uma menor disseminação do vírus.
Dessa forma, precisamos reabrir as escolas o mais rápido possível, com protocolos de segurança rigorosos, uma vez que as consequências do fechamento se mostram maiores que o próprio risco da doença nos pacientes pediátricos.
Muitos estudos mostram que são várias as sequelas desencadeadas pelo isolamento social em nossas crianças e adolescentes. Dentre elas, o desenvolvimento de transtornos psicológicos e psiquiátricos (ansiedade, depressão e até suicídio) em parcela significativa da população infantil, assim como, registros de um aumento preocupante na violência física e abuso sexual. A fome exerce também um papel de importante preocupação neste cenário, uma vez que a escola é a oportunidade de alimentação para muitas crianças do nosso país.
Diga não ao lockdown pediátrico!
Dra. Caroline Teles