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Coluna Semanal – Novas regras para empréstimos consignados – Por José Henrique

A Coluna Semanal do Pauta de Hoje está no ar. O convidado desta semana é José Henrique, Bacharel em Direito.

 

NOVAS REGRAS PARA EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS COM BASE NA MEDIDA PROVISÓRIA N° 1.106/22.

Em 17 de março o Poder Executivo publicou a Medida Provisória n° 1.106/2022 trazendo novidades relativas aos empréstimos consignados, especialmente sobre a margem de crédito e compatibilidade dos cidadãos aptos a celebrar empréstimos nessa modalidade.

Entre as principais alterações, vale destacar que a MP elevou a margem de crédito para até 40% da renda consignável. Desta margem de crédito, vale frisar que 5% devem ser destinados exclusivamente para o cartão de crédito com margem RMC (Reserva de Margem Consignável), ficando 35% para empréstimos pessoais que podem ser distribuídos em no máximo 9 (nove) contratos de empréstimo.

A medida também estendeu a concessão do crédito consignado aos cidadãos amparados pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC) ou Programa Auxilio Brasil, modalidade de crédito até então restrita a aposentados e pensionistas do INSS e servidores públicos.

Vale lembrar que o crédito consignado é aquele concedido com desconto automático das parcelas em folha de pagamento ou benefício. Por ter como garantia o desconto direto, esse tipo de operação de crédito pessoal é uma das que oferecem os menores juros do mercado.

O governo afirmou que a medida pode alcançar mais de 52 milhões de pessoas, incluindo os cerca de 30,5 milhões de aposentados e pensionistas do INSS, os 4,8 milhões de beneficiários do BPC e os 17,5 milhões beneficiários do Programa Auxílio Brasil.

Neste sentido, devido ao crescente número de golpes de falsos empréstimos consignados, é importante ficar olho no seu contracheque (holerite) e extrato do INSS, para analisar os descontos realizados diretamente pela fonte pagadora e evitar possíveis fraudes.

Embora a medida tenha a finalidade de favorecer os consumidores nesse período de crise econômica, é de suma importância observar as dívidas já existentes e os custos de vida antes de tomar um novo empréstimo e assumir novas parcelas, tudo isso para não se endividar excessivamente e comprometer a renda mínima para subsistência.

 

José Henrique Soares Sampaio

Bacharel em Direito

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Coluna Semanal – Pandemia e saúde mental: Impacto no público infantil – Por Anne Caroline

A Coluna Semanal do Pauta de Hoje está no ar. A convidada desta semana é Anne Caroline, Psicóloga Clínica e Ludoterapeuta Formada pela Universidade de Pernambuco (UPE) com residência em Saúde Coletiva, pela Universidade de Pernambuco (UPE), especialista em Gestão da Clínica pelo Hospital Sírio Libanês e especialização em andamento em Neuropsicologia pelo Instituto JF Queiroz.

 

PANDEMIA E SAÚDE MENTAL: IMPACTO NO PÚBLICO INFANTIL

A pandemia causada pela COVID-19 vem gerando inúmeros danos à saúde física, mas passado pouco mais de um ano desse contexto uma nova preocupação surge: os impactos da pandemia também à saúde mental da população. Mudanças no estilo de vida, confinamento, luto, maior exposição à eletrônicos, impactos econômicos, restrições sociais, no trabalho, na educação, incerteza com relação ao futuro, aumento de sentimentos como: tristeza, ansiedade, tédio, frustração, medo, raiva, impotência, solidão, tudo isso levou algumas pessoas a desencadear problemas psicológicos e/ou transtornos mentais ou piorar doenças mentais já existentes.

Se para nós adultos esses impactos são devastadores, com as crianças não é diferente. De uma hora para outra tiveram suas aulas interrompidas – o que acarreta o rompimento com um dos principais espaços de socialização e aprendizado -, precisaram começar a usar máscara, se preocuparem com o risco de doença e morte, se afastarem dos amigos e familiares, alguns a lidar com luto, dentre outros. Independentemente da idade todo esse contexto que estamos vivendo irá afetar de alguma forma a vida das pessoas e por esse motivo é importante um olhar atento para as consequências da pandemia para o público infantil, visto que os transtornos que surgem na infância e adolescência acarretam prejuízos cumulativos até a idade adulta pois afetam as pessoas em plena fase de desenvolvimento.

Para prevenir os transtornos mentais no contexto atual, é preciso conhecer e antecipar as consequências da pandemia sobre a saúde mental de crianças. Identificar precocemente os primeiros problemas e agir sobre eles evita que piorem, bem como buscar estratégias de promoção do bem estar e da saúde mental dos pequenos.

Ainda não é possível ter uma dimensão real do impacto da pandemia na vida das crianças, porém, como Psicóloga, os efeitos psicológicos mais imediatos que venho percebendo na prática são: aumento nos níveis de estresse e ansiedade, choro fácil e frequente, dependência eletrônica, ansiedade de separação, dificuldade de atenção e concentração, alterações de sono e apetite, preocupações excessivas, dificuldades de aprendizagem e alterações comportamentais (regressão, agitação, irritabilidade, impaciência, agressividade). Todos esses fatores variam de acordo com a idade, com o contexto familiar e social e com a forma com que os adultos lidam com a situação.

Sobre isso, vale ressaltar que os pais tem uma importância enorme visto que podem identificar sinais e sintomas de maneira precoce, acolher e ajudar os filhos a processar e dá uma resposta adequada ao que estão sentindo, passando segurança e conforto. Porém devemos ficar atentos que os pais também estão sendo afetados física, social e emocionalmente pela pandemia e que dessa forma muitas vezes podem não perceberem ou mesmo agravar ainda mais os problemas emocionais de seus filhos. No entanto, é importante destacar que nem sempre as crianças sabem comunicar o que estão sentindo, portanto, é papel do adulto perceber e acolher as emoções das crianças.

Para amenizar os impactos psicológicos da pandemia para o público infantil algumas estratégias são fundamentais: sensibilidade por parte dos pais e/ou cuidadores para identificarem de maneira precoce alterações comportamentais ou sintomas psicológicos, acolhimento e segurança para ajudá-los a enfrentar as dificuldades, incentivo à prática de atividades físicas, rotina organizada (porém não de maneira rígida, a rotina é para servir como norte e deixar os limites bem definidos para a criança, ajudando-a a se regular melhor e para isso a flexibilidade é essencial), tempo de qualidade, brincadeiras, lazer e também muita paciência por parte dos adultos, para isso é fundamental o autocuidado, parece clichê, mas é real: só é possível cuidar bem de outra pessoa, especialmente de crianças, estando bem consigo mesmo.

Anne Caroline Souza Januário

 

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Coluna Semanal – Furar a orelha de forma humanizada, respeito ou violência de gênero? – Por Roseane Lopes

A Coluna Semanal do Pauta de Hoje está no ar. A convidada desta semana é Roseane Lopes, Enfermeira Obstétrica (UFPE/Rede Cegonha), capacitada em perfuração de orelhinha com técnica humanizada, educadora perinatal, habilitada em massoterapia gestacional, tutora de campo do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica (ESPPE/SES-PE VII GERES) e empreendedora na modalidade de home care materno infantil.

 

FURAR A ORELHA DE FORMA HUMANIZADA, RESPEITO OU VIOLÊNCIA DE GÊNERO?

Ao se tratar de colocar brincos na menina recém-nascida, surgem várias polêmicas acerca da violência de gênero. Várias fontes fazem a sua definição quanto ao termo, associando ao contexto utilizado, mas pode-se inferir comumente como Violência de Gênero sendo aquela manifestação de poder que sugere desigualdade entre mulheres e homens, associada a papéis históricos e sociais, que tem caráter discriminatório e pode ser expressa de forma física ou psicológica.

Há quem acredite que ao furar a orelha de um bebê que não pode falar por si e expressar (ou não) seu desejo quanto a esta decisão, é um tipo de violência de gênero. Entretanto, um novo nicho no mercado empreendedor, traz pensamentos distintos ao oferecer a “Perfuração de Orelhas com Técnica Humanizada” que leva o brinco a orelha do bebê, sem dor e de forma segura, após o desejo dos pais em realizar este procedimento. Esta técnica para aplicação de brincos, já é realizada nas capitais, com alta adesão pelos famosos, como é o caso da  Sabrina Sato, da cantora Thaeme, do Cantor Péricles e dos ex-BBB’s Rodrigão e Adriana Santana que escolheram para suas filhas, a aplicação de brincos, sem dor.

Em Salgueiro, esta já é uma opção disponível para os pais que optarem pelo procedimento humanizado que leva a segurança no método e o conforto do domicílio da criança.

Não há dúvidas de que este assunto precisa ser discutido! Na nossa cultura, colocar brincos é símbolo de delicadeza e vaidade. É preciso respeitar a família que decide não fazer e deixar essa decisão para a criança após crescer e poder decidir por si mesma. Mas, também é preciso respeitar aquela família que deseja colocar brincos na sua filha.

O termo ‘Humanizar’ vem de ‘benévolo’ e após conhecer o método de colocar brincos sem trauma no bebê, acredito que para as famílias que querem, com certeza este é o melhor meio de ofertar o procedimento sem traumas e sem dor, respeitando a decisão dos pais e fazendo deste momento o mais especial e seguro. Ressalvo que, em toda a discussão, a compreensão deve estar em Respeitar a escolha do outro, seja ela a favor ou contra o uso de brincos em bebês!

Poder levar este tipo de cuidado ao conforto e segurança da casa do bebê no Home Care (Cuidado Domiciliar), é uma forma de oferecer menores riscos de infecção no furo da orelha e de contaminações de doenças (como é o caso da COVID-19) que podem acontecer ao expor o bebê a lugares de risco potencial, como ambientes com aglomerações e circulação de pessoas doentes. A ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, proíbe a realização de perfuração de orelhas dentro de ambiente hospitalar, por esta razão, não há mais a prática antiga e errônea de sair da maternidade, com o brinco na orelha do bebê.

Trazer este serviço para a minha cidade natal, Salgueiro e regiões circunvizinhas, é poder oferecer as mulheres e bebês da minha região, um cuidado que antigamente era elitizado e direcionado apenas aos famosos e moradores de capitais. Hoje, me sinto feliz ao oferecer ao meu Sertão, um Home Care Materno Infantil e saber que aos poucos sou conhecida como a Enfermeira que fala em Humanização no interior e até mesmo, como a Fada do Brinco, como dizem as crianças quando chego nas suas residências para colocar o brinco sem choro, sem medo e sem dor. É gratificante! Além de levar o primeiro brinco com técnica humanizada e segura, sem dor, atuo em serviços voltados a assistência humanizada ao público materno infantil, como massoterapia gestacional, arte gestacional (pintura na barriga), perfuração humanizada sem dor para adultos, educação perinatal no curso de pais, consultas de enfermagem no pré-natal e pós-parto, exame de prevenção ao câncer de colo de útero, entre outros.

Vale relembrar que o respeito a diferença de opinião sobre diversos termas, ainda a melhor forma de conduzir temas polêmicos.

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Coluna Semanal – Saúde Bucal em tempos de pandemia – Por Renata Ramos Rosa

A Coluna Semanal do Pauta de Hoje está de volta ao ar. A convidada desta segunda-feira é Renata Ramos Rosa, formada em Odontologia pela UFPE, atendimento clínico geral e especialista em Endodontia pela CPO-Recife apresentando algumas dicas sobre os cuidados com a saúde bucal. Confira:

 

SAÚDE BUCAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

A COVID-19 é uma doença infecciosa causada por coronavírus de alto grau de contágio. As medidas de proteção se concentram no distanciamento social, quarentena e isolamento, e mais recentemente a vacina de diferentes marcas, para determinados grupos, até chegar à população de forma geral. Além desses cuidados e formas de proteção citados existe também a higienização bucal, bastante essencial para manter a saúde: primeiro por se tratar de uma condição fundamental de manutenção de saúde geral e segundo por reduzir a quantidade de vírus e diminuir a sua contaminação, uma vez que se trata de uma via de contágio de grande relevância.

A higienização bucal inclui o uso de fio dental, escovação dos dentes, limpeza da língua e uso de enxaguante bucal; afinal, na boca podemos encontrar mais de 1.000 (mil) espécies diferentes de microrganismos (bactérias, vírus e fungos ), inclusive o coronavírus.

As recomendações para prevenção da COVID-19 a partir da proteção da saúde bucal incluem:

  1. Lavagem das mãos com água e sabão antes da higienização bucal.
  2. Uso de fio dental e escovação: o próprio hábito é responsável por remover mecanicamente as bactérias orais e o coronavírus presentes na saliva, promovendo menores chances destes chegarem às células pulmonares, principais alvos da doença.
  3. Limpar a língua: com raspador lingual ou a própria escova de dentes.
  4. Enxaguante bucal: seu uso após higienização não é apenas importante para remover as partículas que ficaram dispersas, assim como proporcionar um ambiente inadequado para a permanência do vírus devido o efeito de substâncias ativas presentes no produto. A higiene oral de forma regular é importante no combate à COVID-19 por reduzir a quantidade de vírus e, consequentemente, o risco de contágio.
  5. A troca de escova de dentes deve ser realizada a cada 3 meses em média, ou quando as cerdas estiverem envelhecidas. Em caso de doenças como gripes, resfriados, infecções na boca e na garganta, e em especial o coronavírus, é indicado substituir a escova depois que você já se curou. Essa prática previne a proliferação de bactérias e microorganismos que possam ter se alojado na escova, evitando uma nova contaminação. Além disso, é importante que o paciente deva manter sua escova afastada das outras escovas de pessoas que residam no lugar para evitar contaminação.

Vale ressaltar também, a presença de cirurgião-dentista no cuidado com a vida de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva – UTIs, na luta contra a covid-19. Muito além da prevenção, a atuação de Cirurgiões-dentistas em UTIs tem contribuído na recuperação de pacientes entubados por causa da COVID-19. Estudos mostram, que ficam na boca a maior carga viral, devido a presença de saliva e secreções. Uma pesquisa publicada pelo International Dental Journal, mostrou que o cuidado odontológico preveniu cerca de 56% das infecções respiratórias em pacientes em ventilação mecânica.

Dra. Renata Ramos Rosa

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Coluna Semanal: 30 anos do assassinato do Padre José Maria Prada – Por Padre Remi

A Coluna desta Semana foi relatada pelo Padre Remi especialmente para o Pauta de Hoje e conta a história do Padre José Maria Prada, assassinado há 30 anos, no dia 29 de abril de 1991, em Salgueiro/PE.
Padre Remi de Vettor, italiano da congregação dos Servos da Caridade de São Luis Guanella, veio para o Brasil em 1968. Morou no Sul e Sudeste, se mudando em 1986 para o Sertão Pernambucano. Foi sacerdote de Serrita/PE de 1986 até 1991. Após a morte do Padre José Maria Prada, se tornou o Pároco de Salgueiro/PE, onde vive até hoje.

 

30 ANOS DO ASSASSINATO DE PADRE JOSÉ MARIA PRADA

Nascido em Portugal no ano de 1928, José Maria Prada estudou na Espanha e foi ordenado padre em 1953, iniciando sua jornada de fé e fidelidade aos princípios da Igreja Católica. Em 1955 partiu para Angola como missionário, onde permaneceu até 1976, levando uma vida de verdadeiro sacrifício, sempre em prol dos outros. Regressou para Portugal e em 1979 seguiu para o Sudeste do Brasil. Em 1982 escolheu o Nordeste, primeiro fixando-se na cidade de Exu e mais tarde em Salgueiro, onde seria assassinado.

Um Sargento da Polícia Militar que mantinha uma relação amorosa com uma jovem solicitou que o Padre José Maria Prada realizasse o seu casamento. Ao consultar os registros da igreja, o Padre descobriu que o homem já havia contraído matrimônio anterior e disse que o casamento não poderia ser realizado. Mediante a recusa, o indivíduo disse que o mataria se ele não efetuasse o casamento, mas o padre não quebrou as regras da igreja. Ao negar o tal pedido, Padre José Maria foi alvejado com cinco tiros, às 11h do dia 29 de abril de 1991 na Casa Paroquial, resultando na sua morte imediata.

 Como tudo começou?

Cheguei em Serrita no ano de 1986, Padre José Maria Prada e Padre Manoel Garcia eram os padres responsáveis por Salgueiro. Nos primeiros quatro anos tivemos pouco contato, mas sabia que eles viviam na casa Paroquial da Igreja Matriz, numa situação precária. Não havia funcionários e o Padre José Maria era quem cozinhava, arrumava e lavava as roupas, ele era um homem humilde, estava sempre com a mesma vestimenta e com um carro que sempre apresentava problemas mecânicos.

Em outubro de 1990, o Padre Manoel Garcia viajou para a Espanha, como fazia anualmente, conseguindo, posteriormente, retornar para a Angola, na África. Os dois padres trabalharam lá por muitos anos e o seu sonho sempre foi voltar. Após a partida do Padre Manoel, o Padre José Maria se tornou o principal responsável pela Paróquia de Salgueiro, a substituição deveria durar cerca de três meses, ele pretendia retornar para a Angola em janeiro de 1991, seguindo os passos do seu amigo.

Em dezembro de 1990 conversei com o Padre José Maria para saber quais eram os seus planos, pois a ideia era que eu viesse para Salgueiro após sua partida e eu precisava organizar minha mudança. Ele então comentou que tinha interesse em ficar mais tempo na cidade e pediu que esperasse, eu disse que ele ficasse o tempo que precisasse. Em meados da quaresma, voltei a contactá-lo para saber se ele já tinha algo programado, porém, o Padre José Maria pediu novamente para ficar, dessa vez até a Páscoa, ele alegou estar fazendo um tratamento dentário e precisava de mais tempo. Após a Páscoa, já em abril, conversamos novamente e ele mais uma vez pediu um pouco mais de compreensão porque pretendia ficar até junho para as comemorações de Santo Antônio, Padroeiro da Cidade.

Como foi o dia da morte?

Acredito que toda essa demora e adiamento para sua ida não foi um plano do Padre, mas sim de Deus. Se ele tivesse seguido o planejado e partido em janeiro de 1991, nada disso teria acontecido. Em 29 de abril de 1991, numa segunda-feira, o Padre José Maria foi assassinado. Na manhã do homicídio eu estava em Salgueiro, na casa das Irmãs de Vedruna, na Rua Caboclo Eduardo, quando elas receberam uma ligação dizendo que haviam matado o Padre, imediatamente corremos até a igreja. Chegando lá nos deparamos com o Padre José Maria estirado no chão, ainda não havia polícia no local. Retirei os óculos dele e uma caneca derrubada. Ele morreu com um pequeno pedaço de papel e uma caneta em suas mãos.

O que estava escrito no papel?

Estava escrito o número do livro e da página do casamento anterior que impedia o homem que o matou de se casar novamente na Igreja Católica.

Como era Salgueiro na época do homicídio?

Eu acredito que a morte do Padre se deu porque Deus quis o mártir para Salgueiro, ele era o Padre mais humilde da Diocese. Após a saída do Padre Manoel Garcia, o Padre José Maria criou um apreço por Salgueiro, ele se sentiu o único responsável e se apaixonou pela cidade. Sempre trabalhando com muito zelo, a população admirava a simplicidade e atenção dele. Talvez ele pensasse em ficar de forma definitiva.

A partir de 29 de abril, em cima do corpo e da morte do Padre José Maria, eu entrei como Padre em Salgueiro.  Infelizmente, Salgueiro precisou de um acontecimento para mudar a mentalidade do povo. O Padre foi a bandeira para a mudança da cidade. Na época vivíamos um momento difícil: muita violência, desorganização, injustiças, drogas e coronelismo. Mesmos com todos os defeitos que a cidade carregava, chegar a ponto de matar o Padre? Tornou inadmissível. Foi quando a população se questionou se esse era o Salgueiro que queriam deixar para os seus filhos, a partir daí o povo se desarmou religiosamente e socialmente.

Com o passar do tempo Salgueiro foi se tornando uma cidade mais acessível e mais preocupada com as causas, encontrei um terreno fértil e preparado, através do sangue do Padre José Maria. Com a acessibilidade e a abertura para mudança, iniciei um trabalho de conscientização social contra o uso de drogas, a violência e toda malandragem que havia aqui. Consegui ser uma voz, a voz de um povo que aceitou a evolução. Introduzi muitas reformas e eliminei maus costumes, agora Salgueiro era uma só comunidade, sem missas particulares para famílias tradicionais, com uma missa para todos, onde o povo colocava à sua vida e às suas intenções.

A missa agora acontecia na praça da Igreja Matriz, sempre muito cheia. Foi quando comecei a me posicionar sobre a violência, a polícia e as coisas erradas que aconteciam. A pregação e o envolvimento social começaram a mexer nas estruturas, na política, nos problemas que faziam Salgueiro ser uma cidade de medo. Sempre tive um caráter e pulso forte, fui e sou bastante decidido, mas se eu não tivesse encontrado o sangue do Padre José Maria, teria sido impossível. Comecei a receber muitas ameaças: “Já matamos um Padre, para matar o segundo não custa nada”, diziam. Queriam me amedrontar, mas quanto mais me ameaçavam, mais alto eu falava. Eles queriam o povo nas mãos, mas eu não permiti.

Salgueiro se transformou. A cidade que existia até a morte do Padre José Maria mudou radicalmente. Eu sou Italiano, morava no Brasil há muitos anos e nunca pensei que viria para cá, mas se Deus me colocou aqui, ele tinha um plano. Para que o plano de Deus fosse possível, eu tive que enfrentar e levar a frente uma mudança política, social e religiosa. E Salgueiro entendeu, aceitou e respondeu.

Onde o Padre foi sepultado?

Uma irmã adotiva do Padre José Maria pediu, em nome da família, que o corpo fosse levado para São Paulo/SP. Após uma noite inteira de vigília na matriz com cerca de dez mil pessoas presentes para dar o último adeus ao Padre José Maria, a Celebração Eucarística de encomendação do corpo se deu no início da manhã da terça-feira (30).

Depois da autópsia e retirada dos órgãos, pedi a uma irmã que trabalhava no hospital para resgatar o coração. Os tiros tinham o atingido e o órgão estava despedaçado. Ela recolheu e Dr. Buda preparou o material para conservá-lo. O coração hoje está sepultado em uma lápide na Igreja Matriz de Santo Antônio.

A pedido do Bispo da Diocese de Salgueiro, Dom Magnus Henrique Lopes, os restos mortais do Padre José Maria Prada retornarão para Salgueiro até o próximo final de semana deste mês (abril/2021), em homenagem aos 30 anos de seu falecimento.

O homicídio do Padre José Maria Prada abalou a fé do povo?

O assassinato abalou a cidade, mas não a fé. A fé foi fortalecida. Eu dizia claramente ao povo: “Não vamos cuspir em cima de um militar que matou o Padre José Maria. Não foi só ele que matou, Salgueiro o matou. Não são só as mãos dele, as nossas mãos também estão sujas de sangue.” Tínhamos chegado ao cume do mal-estar e precisava acontecer alguma coisa para a cidade se envergonhar, se sentir suja. As pessoas ficavam chocadas quando eu dizia isso, mas entendiam e acreditavam que era esse o caminho. As grandes caminhadas, lutas contra as drogas, pedidos por justiça, todos os acontecimentos que vieram após isso foi uma consequência da mudança e o Padre José Maria, a vítima inocente foi o meio para a evolução.

O assassino foi preso?

O grito do povo por justiça era muito alto, a camisa suja de sangue foi exposta numa cruz de madeira e carregada pelo povo nas celebrações e caminhadas como um pedido de justiça. Dez dias depois do crime fui até o Batalhão em nome do povo de Salgueiro perguntar porque ainda não tinham prendido o assassino. Acusei a polícia de ter escondido e dado fuga ao suspeito. “Não me venham com essa piada que ele fugiu”, contestei. O responsável pelo Batalhão negou e disse que fizeram de tudo para prendê-lo. Ninguém acredita nisso. Em abril de 2000 o caso foi tema do Programa Linha Direta, da Rede Globo.

O que aconteceu na cidade durante esses 30 anos?

A morte foi marcante para a história da cidade, foi quando a mudança começou a aparecer. O povo acreditou na própria força e começou a dar um basta na situação. Alguns anos após a morte, em 1999, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI – chamada Operação Mandacaru, centenas de soldados vieram para Salgueiro investigar crimes relacionados às drogas e me aliei ao povo para denunciar as máfias existentes, demonstrando a grave situação da cidade. Pedi aos fiéis que não ofertassem dinheiro, ofertassem denúncias. Como eles (os fiéis) tinham medo de dizer os nomes dos traficantes, eu pedi que escrevessem em um pedaço de papel e me entregassem. Ao depor na delegacia, entreguei todas as denúncias recebidas do povo que se uniu, participou e denunciou.

Em 2016, foi construído um memorial em mosaico, alusivo ao seu sacrifício, na Praça da Igreja Catedral, para lembrar as virtudes e o ato de coragem e fé de Padre José Maria Prada, que deu a vida em defesa das leis bíblicas.

Em 2020, José Maria Prada teve sua história de coragem e fidelidade à igreja retratada num livro. A obra “Padre José Maria Prada – Mártir da santidade do Matrimônio” foi escrita pelo seminarista da Diocese Salgueiro Tassicio Leal de Oliveira.

O assassino do Padre José Maria Prada nunca foi preso. Em 2011, o crime prescreveu.

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Coluna Semanal – Oportunizar: O poder da percepção – Por Maysa Lavor

A Coluna Semanal de hoje já está no ar com Maysa Sousa de Lavor, servidora pública, formada em Administração e Ciências Contábeis, especialista em gestão pública e empresária.

 

OPORTUNIZAR: O PODER DA PERCEPÇÃO

Sempre muito curiosa e atraída por desafios, definitivamente não sou o tipo de pessoa que espera a vida passar ou que acompanha “o rebanho” por comodismo. Ainda não completei três décadas de vida, entre erros e acertos tenho vivido meus vinte e poucos anos de uma maneira muito intensa. Servidora pública efetiva desde os dezoito anos, administradora, contadora, e agora também empresária, prestando assessoria e consultoria empresarial, posso dizer que, hoje, raro será o dia que não seremos desafiados no ambiente profissional.

Há tempos que o mercado de trabalho nordestino – ainda mais o sertanejo – se mostra desanimador para a juventude. Muitos obstáculos são encontrados até a inserção efetiva no setor profissional. É comum encontrarmos jovens recém-formados que ainda não conseguiram exercer suas profissões, fato ocasionado principalmente pela escassez de vagas ofertadas. Isto tem potencializado ainda mais a necessidade de enxergar além do que se vê através do empreendedorismo.

“Mas como aproveitar oportunidades que não existem?” “Como empreender em um mercado já saturado” Pois bem, é necessário que desenvolvamos a habilidade de perceber o – quase – imperceptível: nichos pouco explorados com potencial de ascensão. Às vezes a oportunidade está bem à nossa frente e não conseguimos enxergá-la por desatenção. A pandemia causada pelo Coronavírus tem mudado o perfil dos consumidores e é esta mudança que deve ser observada para que as oportunidades de mercado sejam encontradas.

O isolamento social e as medidas restritivas de convivência impostas desde o início do período pandêmico fizeram com que as pessoas reorganizassem suas prioridades interferindo também na maneira como se comportam ao contratar serviços e adquirir produtos. Os serviços de delivery, consultas médicas online, itens de “casa e decor”, ensino a distância, marketing digital e consultorias para pequenas e médias empresas são exemplos de áreas em avanço.

Devemos estudar o ambiente no qual estamos inseridos, sabendo que as oportunidades apenas nos serão reveladas quando estivermos procurando claramente por elas. É necessário investir no potencial disponível e palpável de forma criativa, entendendo que apesar de estarmos inseridos num círculo pequeno de convivência, o empreendimento que dá certo para o vizinho não necessariamente dará para você.

“Diante de uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a sua maior força.” Sun Tzu.

Maysa Lavor

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Coluna Semanal – A Justiça e o Lockdown – Por Dr. Ilton Lima

Toda segunda-feira, semanalmente, você poderá imergir em uma proposta de leitura e interpretação, sempre acompanhada de uma assinatura autoral criada especialmente para o Pauta de Hoje. O objetivo da Coluna Semanal é primar pela leveza de conteúdo, com reflexões e opiniões sobre diversos temas do cotidiano.

Nesta semana, excepcionalmente, a Coluna Semanal está sendo publicada na quarta-feira. O convidado da semana é o advogado salgueirense Dr. Ilton Lima.

A JUSTIÇA E O LOCKDOWN

Desde que foi anunciada ao mundo, a pandemia do ‘novo’ Coronavírus (SARS-Cov-2), popular Covid-19, despontou em alguns países uma dicotomia irrefletida, ilógica e quase sempre movida por paixão político partidária ou por determinado agente público: contra e favorável. O que se denota é a vida cotidiana sendo rebaixada a mais abjeta questão ideológica.

Assim, na busca desenfreada por protagonismo, audiência nos tradicionais veículos de comunicação, likes, seguidores em redes sociais e agradar seus correligionários – objetivando votos nas eleições recém passadas e com vista às próximas –, administradores públicos começaram a publicar decretos que contrariam a Constituição Federal e ferem suas cláusulas pétreas, repetindo em coro o jargão que é para “salvar vidas”. O gesto pode até ser nobre ou necessário, mas as medidas são inconstitucionais.

Como se estabeleceu conflitos entre os Decretos Federais, Estaduais e Municipais, em abril de 2020, julgando a Arguição de Descumprimento de Preceitos Fundamentais (ADPF 672), o Supremo Tribunal Federal reconheceu e assegurou a “competência concorrente dos governos estaduais e distrital e suplementar dos governos municipais, … independentemente de superveniência de ato federal em sentido contrário”, podendo cada um adotar medidas restritivas durante a pandemia, “tais como, a imposição de distanciamento/isolamento social, quarentena, suspensão de atividades de ensino, restrições de comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas, entre outras”.

Assim, Estados e Municípios passaram a adotar ações restritivas, cada um de seu modo e como lhe aprouvesse. Dentre as medidas exemplificadas(sic!) pelo STF – “entre outras” – estão “quarentena, restrições de comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas”, ou seja, “lockdown”. Aliás, nesta pandemia o STF recebe críticas dos operadores do Direito, pois, ao invés de atuar como “o Tribunal da última palavra”, passou a proferir “a primeira”, invertendo a ordem dos processos judiciais e obstaculizando as Instâncias inferiores, já que suas decisões não podem contrariar as da Suprema Corte.

Ficou evidente que apesar de todo avanço tecnológico e o desenvolvimento da sociedade, a população mundial não estava preparada para enfrentar uma pandemia. Evidentemente que o Poder Judiciário também não, seja quando provocado para decidir ou administrativamente para estabelecer seu próprio funcionamento neste período.

Para enfrentamento da pandemia, o Poder Judiciário adotou diversas medidas limitantes das atividades. O Conselho Nacional de Justiça(CNJ), através da Resolução No 313, de 19 de março de 2020, e seguidas reiterações, estabeleceu que “Os tribunais definirão as atividades essenciais a serem prestadas”, mas, suspendendo “o atendimento presencial de partes, advogados e interessados, que deverá ser realizado remotamente pelos meios tecnológicos disponíveis”.

Com exceção de poucos dias, o Poder Judiciário suspendeu prazos processuais e atos presenciais, inclusive de advogados, limitando consideravelmente o exercício profissional. Foram disponibilizados alguns canais de comunicação, como email e aplicativos específicos, mas nenhum deles pode substituir a efetividade e celeridade do despacho do advogado diretamente com o magistrado ou assessores.

A dificuldade é que o Brasil tem atualmente 91 tribunais – federais (61) e estaduais (30) – e mais o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cada um estabelecendo regras próprias de atuação durante a pandemia.

Assim, a advocacia e a magistratura se viram em uma “pandemia jurídica”, com processos demais, pessoal de menos, prazos processuais suspensos, tribunais e fóruns fechados há um ano. Não ocorreu a chamada “prestação jurisdicional” a contento. Interessante é que todos os operadores do Direito reclamam, inclusive magistrados, que dependem de sistemas ultrapassados e internet lenta. O que já era vagaroso tornou-se apático.

É certo que alguns tribunais divulgam que proferiram milhares e até milhões de despachos e decisões durante a pandemia, contudo, esta efetividade demora a chegar partes dos processos, pois, na maioria não é cumprida a determinação devido a redução de servidores e do trabalho limitado dos oficiais de justiça e, ainda, com os prazos suspensos, demoram muito mais para transcorrer.

Aquilo que era cogitado para se implementar em anos, foi instaurado em meses, e ainda continua se modificando. O certo é que o Poder Judiciário e a advocacia tiveram que aderir de súbito a era digital, praticamente soterrando o método físico de pastas, papeis e carimbos. Esta mudança teve impacto modificativo na forma de agir dos advogados e advogadas, seja no peticionamento ou atendimento aos clientes, onde a disponibilidade e a presteza se uniram ao conhecimento técnico e a experiência, tudo como forma de atingir resultado satisfatório em menor espaço de tempo possível.

O problema é o que era para ser exceção agora tornou-se regra e, pelo que se constata, agradou bastante alguns setores do Judiciário, onde já se intensifica rumores de que deve ser mantido – claro, em menor extensão –, como forma de “efetividade e racionalidade das despesas e dos trabalhos”.

O Poder Judiciário não é criador de leis ou regras, mesmo para determinar a implantação ou não de lockdown, função constitucionalmente garantida ao Executivo, nos limites legais e no interesse da sociedade. Entretanto, o que vimos no período de pandemia – além dos chefes de executivos buscando reconhecimento falso de salvadores do povo –, foi um desmedido ativismo judicial, olvidando que a implantação de suas decisões necessita de um conjunto de obrigações e articulação de várias áreas do governo, com ênfase na financeira e de pessoal.

O pior é que não se atentaram que a decisão do Poder Judiciário retira do Poder Executivo diversas responsabilidades inseridas em lei, podendo alegar que “estava apenas cumprindo ordem judicial”, quando futuramente cobradas as responsabilidades.

O Judiciário deve adotar a “autocontenção judicial” e reconhecer que as políticas públicas, como o lockdown, somente devem ser estabelecidas pelo Poder Executivo em suas diversas áreas de competência. Ao mesmo, buscar formas de agilização dos processos e oferecer ao jurisdicionado decisões rápidas, jurisprudência uniforme e, o mais breve possível e com as cautelas necessárias, o retorno ao atendimento presencial.

Por fim, registremos que o lockdown é medida excepcional, contudo, se decretado, deve ser obedecido. Não se pode invocar “Estado de Direito” descumprindo as normas postas, ainda que não concorde com elas ou tenha ressalvas.

Ilton Lima

Coluna Semanal

Coluna Semanal – Dicas e perspectivas para o comércio local na pandemia – Por Rafaela Alencar

A Coluna Semanal de hoje já está no ar com Rafaela Alencar, empreendedora, administradora de empresas formada pela Universidade Federal de Pernambuco, hoje à frente do grupo Norpeças, Melhores Amigos Pet Shop e Franquia Yes Cosmetics Operação Salgueiro.

 

DICAS E PERSPECTIVAS PARA O COMÉRCIO LOCAL NA PANDEMIA

Há 10 anos atuando no comércio local, ouvindo as demandas dos amigos comerciantes e vivendo as transformações pelas quais nossos negócios passaram nos últimos anos, posso dizer com algum grau de certeza que empreender pelas bandas de cá é algo bastante desafiador. Nossa cidade passou por um boom muito expressivo quando vivenciamos as obras da transposição por volta de 2012. As pessoas viveram uma situação quase de pleno emprego, circulava recurso em nossa terra, tínhamos boas e grandes esperanças de que esse desenvolvimento se sustentasse no tempo, mas isso infelizmente não aconteceu.

Costumo dizer que passamos então a viver um período “depressão pós-eufórica” onde o movimento do comércio caiu e muitos empresários tomaram grandes prejuízos, alguns por terem aberto crédito para as empresas que prestavam serviço às obras, outros por terem se endividado para investir e aproveitar um crescimento intermitente que não se concretizou.

Nossa cidade não tem conseguido muito êxito em atrair investimentos e empregos, o que se gera por aqui normalmente é com muito suor e persistência dos seus próprios cidadãos. Nossa privilegiada localização geográfica parece que nada serve aos olhos dos governantes estrategistas. E então vem a pandemia desafiar ainda mais nossas atividades.

Como subverter tudo isso e ainda se manter firme e forte no meio desse furacão? Se reinventar nunca foi problema para um povo forte, valente e trabalhador como o nosso. Adaptar-se à nova realidade tentando trazer comodidade para os clientes e entrando de cabeça na modernidade, abraçando mercados que vão além da nossa cidade através da internet, criando vínculos fortes e duradouros com os seus clientes e reforçando diuturnamente a segurança em relação à Covid-19.

Nós não sabemos por quanto tempo ainda teremos que conviver com o coronavírus. Portanto, responsabilidade e prevenção são as palavras de ordem. Máscara, álcool, distanciamento e uma boa dose de criatividade para juntos superarmos mais esse grande desafio.

Com certeza quando tudo isso passar, quem conseguir se sobressair, estará muito mais forte e adaptado. Com grandes possibilidades de avanços importantes, tanto no seu comércio quanto nas relações humanas de maneira geral.

Rafaela Alencar

Coluna Semanal

Coluna Semanal – Quando a guerra tem comando feminino – Por Dra. Patrícia Belfort

 

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Coluna Semanal de estreia do Pauta de Hoje já está no ar com Dra. Patrícia Belfort de Carvalho, mulher, empreendedora, profissional de referência em medicina endocrinológica do Pronto Socorro São Francisco e atuante na linha de frente contra a Covid-19.

 

QUANDO A GUERRA TEM COMANDO FEMININO

Eu, Patrícia, 40 anos, mulher nordestina e sertaneja, médica, mãe, filha, esposa e dona de casa vivi a guerra. Na verdade, ainda vivo, ela não acabará tão cedo. Assim como eu, milhares de mulheres profissionais da saúde deixaram seus lares todos os dias sem saber se voltariam bem no próximo plantão.

A maioria esmagadora dos profissionais de saúde do Brasil são mulheres. Entre técnicas de enfermagem, enfermeiras, médicas e assistentes sociais definitivamente, as mulheres representam mais de 80% dos profissionais de saúde do país. O mundo evoluiu, ganhamos nossos direitos, mas não diminuíram os nossos deveres, acho até que aumentaram, somos comandantes do nosso lar e do ambiente de trabalho. As cobranças são muitas, agora temos que trabalhar, gerenciar a casa, cuidar dos filhos, malhar, fazer dieta, nos cobram exaustivamente por um mundo virtual pra estarmos sempre bem, lindas, sorridentes e felizes, ufa! Quem aguenta ser mulher no Brasil está pronta pra tudo.

A vida inteira vi filmes de guerras, os homens estavam nas frentes de batalhas, agiam de forma irracional matavam os inimigos (também homens) e assim milhões morreram em guerras bélicas, sangrentas e violentas. Hoje vivemos a guerra biológica, o inimigo é invisível, não se sabe sua origem, e as mulheres, mais uma vez, também assumiram posição de defesa. Colocamos nossas vidas e a de nossas famílias em risco, carregamos danos não mais físicos, mas fortemente psicológicos, além de traumas e cicatrizes talvez nunca apagadas. O medo domina nossas vidas e com ele seus sintomas: angústia, ansiedade, palpitação, insônia, tristeza e irritação. Não vemos uma luz no fim do túnel, nosso exército parece não ter comando e todos os dias, nós mulheres, antes consideradas sexo frágil, presenciamos a batalha e por vezes, o fracasso. Lutamos, choramos, nos emocionamos, celebramos as vitórias, mas a morte parece continuar batendo com avidez na nossa porta.

Após quase 60 dias de luta, vivenciei a partida dolorosa, sofrida e inacreditável de meu pai pelo Covid. Ele foi sepultado num dia de sábado e na segunda-feira eu e minhas duas irmãs médicas não vivenciamos o luto, estávamos no hospital porque precisávamos mostrar força para as pessoas, porque era preciso continuar. Minha mãe, idosa, com 30 dias após a partida do marido, já estava trabalhando para ajudar no comando da nossa empresa. Que mulheres, meu Deus!

Hoje estar aqui, viva, um ano após o início de tudo já é motivo de agradecimento. As profissionais de saúde terão grandes histórias para contar no futuro, de como vivenciaram uma catástrofe, partidas dolorosas, despedidas não realizadas e a perda de tantos colegas de profissão.

Recebi minha vacina, continuo na minha atividade, a guerra não tem prazo pra acabar, não assisto mais televisão, não quero mais saber de notícias ruins, apenas me atualizarei nas evidências sobre a doença, chega de Fake News que prejudicam minha saúde mental.  O meu conceito de felicidade mudou e já não penso tanto no futuro ou qualquer extravagância supérflua e material.

Hoje sou outra mulher, ainda mais firme, corajosa e agradecida a Deus pela vida.

 

Patrícia Belfort